Conferência Pattabhi Jois, Respiração - França, 1991.

Conferência Pattabhi Jois, Respiração - França, 1991.
Tradução: Fábio Furtado

Pergunta: Ele (um estudante), ao respirar, mantém a língua tocando o palato. Isso é correto ou ele deve fazer diferente?

Não precisa mudar, desde que feche a boca, isso é tudo. Fechar a boca; o ponto onde coloca a língua não tem problema. Esta é a respiração correta. Se respirar pela boca, gradualmente vão ocorrer problemas no coração. O coração não fica forte. Mas, se respirar pelo nariz, o coração se fortalece bastante. Respirar com o nariz e a garganta, ambos! Respirar apenas com um não é perfeito, não está clareando o seu coração e outras partes. Vocês entendem? (Pattabhi Jois demonstra.) Esta é a respiração apenas pelo nariz. Não é boa. Com a garganta e o nariz, deve incluir ambos (ele demonstra).

Pergunta: O som ao inspirar e expirar é ligeiramente diferente? Se você fosse escrever, como escreveria esses dois sons?

Não, não, não é diferente. Não deve ser diferente. Você deve recorrer ao controle do ânus e ao controle do abdômen, depois faz inspiração. A inspiração, de onde vem? Daqui, do umbigo. Daqui você faz a inspiração. Deve pressionar aqui, faça uma expiração, agora está contraído/firme. (Guruji dá exemplo do som da respiração – inspirando e expirando). Não existe diferença no som. O mesmo mantra. É pela pressão aqui, o controle está aqui (duas polegadas abaixo do umbigo), respire, uma respiração longa vai aos poucos acontecer. Não solte este ponto aqui (não desfaça os bandhas). Novamente pressione, na expiração também, mesmo método.

“Saswana” quer dizer som. O som que você faz durante a prática de asanas deve ser o mesmo do momento em que está sentado, uma respiração longa, o mesmo som. Mas em ambos os momentos deve haver som. Esta é a respiração de limpeza. As posturas vão limpando, dentro do corpo. Sem uma respiração sonora, não acontece uma limpeza completa. Se existe uma sujeira qualquer lá – sujeira (Guruji faz que assopra a sujeira sem som algum) – ela não vai embora (as toxinas não são eliminadas). Mas se você fizer assim – (Guruji demonstra uma “respiração sonora”) – o sangue se purifica.

Por quê? Como? Com uma respiração sonora, você aumenta o calor do seu corpo. O calor do corpo aumenta. Este calor faz o sangue ferver. A sujeira do sangue sai completamente. Produzir um sangue purificado, isto é a limpeza do sangue. Se depois você movimenta todo o corpo, ele por inteiro pode ser completamente movimentado. Um sangue fino, muito purificado. Sangue grosso – é sangue com sujeira. É o que faz ficar doente. Vocês entendem? É por isso que vocês devem praticar com a respiração.

Pergunta: Eu sofri um acidente e o meu septo ficou desviado. Queria saber sobre a respiração, no meu caso. O médico me recomendou que operasse, para corrigir o desvio e poder respirar melhor. Mas estou nervoso quanto a isso. Eu realmente não gostaria de fazer uma cirurgia.

Operar o nariz? Não! Você consegue respirar pelo nariz, inspirar e expirar?

Tom: “Às vezes é um pouco difícil porque o septo está desviado. Está um pouco virado.”

Este é o motivo pelo qual você não deve operar. Antes tente neti kriya. Neti kriya: passe um cordão por dentro do nariz e desobstrua a parte que está fechada (o cordão é inserido pelo nariz e tirado pela boca). Faça dos dois lados. Depois, se você perceber que o problema é o osso, então você opera. Mas se é só impureza, não opere.

Há uma pele muito fina lá, muito delicada. Você tem um bom olfato, mas o olfato está ligado àquela pele. É possível pensar. Se a pele se vai, depois, quando a pessoa for sentir algum cheiro – seja bom ou ruim – nada acontece. Cheiro bom, cheiro ruim, você não percebe. Depois é a língua que se vai, não sente mais gosto direito. A comida não é mais gostosa. A mesma coisa acontece com os demais sentidos, um a um.

É por isso que uma cirurgia nessa região deve ser considerada com muita precaução. Tente neti kriya antes. Não traz problemas. Tente limpar primeiro. É melhor. Tem muitas pessoas, muitos estudantes, que sofrem de problemas no nariz. Então experimentam neti kriya. O nariz fica perfeito. Um estudante americano, o Gary, por exemplo, vocês conhecem, e muitos outros. Agora ele está ótimo. É um método bastante simples. Fazer uma cirurgia pode ser muito perigoso. Para qualquer doença que aparecer, não vá operando assim de pronto, primeiro olhe. Primeiro você deve estudar como essa doença é.

Por exemplo, hérnia. Muitas pessoas, incluindo estudantes, queixam-se que sofrem de hérnia. É um problema em que o intestino sai em um dos lados. Aparece um pedaço de um anel do intestino que deveria estar dentro da parede abdominal. E começa a doer. O médico diz: “Ah, um paciente de hérnia: você deve fazer cirurgia”. (...) A pessoa opera. Um, três, quatro anos e tudo está melhor. Depois disso, começa de novo. Novamente começa a sair. Por isso não se deve operar sem pensar. Alguns asanas estão relacionados a isso. Há muitos métodos de asana para curar doenças.

“Asana chikitsa”. “Chikitsa” significa que são asanas de cura. Alguma doença começa, então são estes asanas que você deve fazer. Certas doenças irão embora depois de praticar... é por isso que primeiro você começa com yoga. Depois, se não tiver ido embora, então você consulta o seu médico. Os médicos também são necessários. Mas você precisa de um bom médico. Ele diz: “oh, metade da doença já foi embora. Não faça cirurgia! Continue seguindo esse método”. Este é um bom médico. Mas tem alguns que dizem: “Ah, você deve operar rapidamente!” – eles querem dinheiro. Eles dizem: “é uma boa cirurgia, você deve fazer!”. Não é bom. Primeiro você pensa. Para qualquer doença que apareça, primeiro, pense. Como é esta doença? – um ou dois dias. E durante isso não coma nada (jejum). É um método.

Shankaracharya, em um dos seu grandes livros filosóficos, diz: primeiro você fala, fala, fala, fala, fala, senta e fala mais. Muitas conversas, boas conversas, más conversas. A questão é que com as más conversas, a sua idade se vai (faz você envelhecer). Mas se você tem boas conversas, a energia aumenta. Mas as duas coisas não é bom. E por isso falar, falar: feche a sua boca. Não fale. Fique quieto, sente-se. Isto é chamado “mouna”, vocês entendem?

Parar de falar e falar. Fechar completamente a boca. Não abra. Silencie e sente-se. Isto é sacrifício (“tapas”). Por isso fechar a boca. É mais um método.

Você começou a ter febre, dor de cabeça, problemas de estômago, não vai ao banheiro com freqüência – o início de uma constipação. Ou então vai ao banheiro 10 vezes. Isso é um equívoco na alimentação. Não precisa ir ao médico. Pegue um ou dois dias. Não coma nada, pare de comer por esse tempo. Vocês conhecem isso? Parem e então automaticamente começa a funcionar. Por exemplo, indigestão, febre. No caso de indigestão: muita comida, muita variedade. Isto é indigestão. O seu fígado ferve apenas com uma pequena quantidade de comida. É toda a força que ele tem. Mais comida, e o fígado não agüenta. É por isso que começa. E por isso você deve passar um ou dois dias sem comer.

Isso também é um sacrifício (“tapas”) para o seu corpo.

Faça pranayama. A mente automaticamente é controlada – controle, controle, todo o seu corpo, mãos, todas as partes estão quietas quando você senta. É por isso que você faz pranayama.

“Danda” significa punição. Febre, todas as doenças, são punições por comer mal. A sua mente sempre em atividade, em todos os lugares (não está concentrada). Isto você controla com pranayama. Ele (Shankaracharya) diz que o controle vem.

Pergunta: (Algo sobre a freqüência da inspiração e expiração e a quantidade de suor gerada.)

Qualquer um que respirar com uma respiração diferente, por exemplo, inspirar mais do que expirar. Inspiração, 20 segundos, expiração 10 segundos, é como você está fazendo. A transpiração pode estar acontecendo, mas você deve levar a respiração para o mesmo nível. Virá mais suor. Este é o veneno. Vocês entendem? Agora vocês estão fazendo uma inspiração de 10 segundos e uma expiração de 5 segundos? A transpiração também é possível neste caso. O suor vem. Mas este suor não é bom. Você faz uma respiração de mesmo nível (inspiração e expiração iguais), este suor é o veneno que está saindo. O veneno interno que sai.

Prana / Apana: Inspiração / Expiração em um mesmo nível, é isso que você deve fazer. Neste momento o seu veneno começa a sair. O veneno de dentro, para fora. Se você faz uma respiração desigual (inspiração e expiração desiguais), o veneno não sai. A respiração interna não está boa e o veneno interno não está saindo. Vocês entendem isso?

Pattabhi Jois, Pranayama, Bandha e Drishti - França, 1991

Pattabhi Jois, Pranayama, Bandha e Drishti - França, 1991
Tradução: Fábio Furtado

Pergunta: Yann está perguntando se você está ensinado pranayama.

De acordo com o método de Ashtanga Yoga, o ensinamento de pranayama é algo difícil. Difícil quer dizer que as posturas primárias e as intermediárias devem estar perfeitas, e um pouco das avançadas. Depois eu ensino pranayama.

Por quê? Por causa do enorme complexo do sistema nervoso que existe dentro. Você faz pranayama com todos eles. (O corpo tem milhares de diminutos canais de energia – pranayama movimenta o prana por todos esses canais.) Fazer pranayama significa controlar a inspiração e a expiração. Controle da inspiração, controle da expiração. Conforme isso vai acontecendo, um sistema nervoso diferente também vai acontecendo. A respiração atinge todo o sistema nervoso. No momento em que alguma das partes não está livre (durante a prática de pranayama a energia se movimenta por todo o sistema. Se em algum ponto a energia estiver bloqueada), naquele lugar a circulação sangüínea pára completamente. O corpo então fica em perigo.

É por isso que as Shastras dizem: “Tasmin sati asana siddhi sati”. Você faz pranayama. Não para siddhi, não faça. (Não faça pranayama com o propósito de obter poderes.) Vocês entendem? É o que o sutra diz. Shastra. Shastra é muito importante. É por isso que primeiro você deve ter controle sobre o seu corpo. Você ainda não controla o seu corpo. Vocês entendem?

Você faz paschimottanasana, então eu empurro (ajuste). Ah! Dor. O seu corpo não está controlado, não está sob o seu controle. Primeiro você se dedica ao controle do seu corpo, em seguida o sistema nervoso vem automaticamente. Terceiro, faça pranayama. O controle da mente então estará a caminho/acontecendo. Controle do corpo, controle do sistema nervoso, controle da mente. Os 3 são muito importantes. Anamaya, depois pranamaya – os cinco revestimentos do corpo como um todo. Vocês conhecem os cinco revestimentos?

Anamaya – corpo do alimento/comida (físico)
Pranamaya – corpo do prana (energético)
Manomaya – corpo mental
Vijnanamaya – corpo de sabedoria
Anandamaya – corpo de êxtase / beatitude

Um revestimento, o primeiro, Anamaya, é o corpo que você vê. Este corpo – é Anamaya. Você come, ele se desenvolve, cresce. Se alimenta com comida, ele cresce – é isso. O segundo, Pranamaya: primeiro você adquire controle sobre o seu corpo físico, depois Pranamaya. Isso acontece só depois que você adquiriu controle sobre o seu sistema respiratório. Você está praticando, mas não a respiração, não está no mesmo nível. A inspiração e a expiração não estão no mesmo nível (a respiração não está igual – a inspiração não é igual à expiração), então primeiro você busca isso. Mesmo nível significa controle do corpo, depois, controle da respiração. Com o controle da respiração, automaticamente você chega ao controle da mente.

“Cale vatam cale cittam.”

Vata significa “ar”, respiração. O controle da respiração é muito difícil. Vocês entendem? Não é fácil controlar a respiração. É preciso praticar e praticar e praticar mais. Então você chega (encontra) ao controle. E o controle da mente automaticamente vem também. A respiração está sempre vindo e indo, vindo e indo; a sua mente também está vindo e indo. Este é o método.

Pergunta: (algo sobre o uso de bandhas e drishtis)

Com todos, sim, sem eles, não tem uso. Você deve se dedicar à pratica de asana incluindo bandhas, respiração, olhar. Todos devem ser incluídos. Não deve praticar sem. Não é algo separado. Deve incluir todos eles – sem incluí-los – não há serventia. Quando for ensinar, deve dizer o mesmo! Na sua prática individual, deve seguir isso, entende? No momento em que for ensinar. Pega alguma posição. Você deve buscar uma respiração igual. Cinco vezes, ou 10, ou 8, como for, essa é a respiração que você deve ensinar. Depois, na prática individual, você fica mais tempo. Este é o método de se praticar. É o método para a prática do yoga.

Fim da entrevista.

Depois da aula.

Pergunta: existe um método específico para controlar Mulabandha? É possível fazer Mulabandha inspirando e soltá-lo ao expirar, de maneira a adquirir controle aos poucos?

Mulabandha – expire completamente, expire, expire, expire, completamente, você faz mulabandha. Neste momento ele vem. Você pode praticar. Em todos os asanas, Paschimottanasana, Ardha Baddha Padma Paschimottanasana, todas as posturas primárias, em todas você faz mulabandha, ele facilita os asanas (com mulabandha os asanas ficam fáceis). Sem mulabandha, muito difícil. É por isso que expirar, expirar, expirar, traz controle para mulabandha.

Rechaka significa expiração. Expire completamente, expire, expire, expire, expire, depois faça mulabandha.

Você expira completamente, faz mulabandha, depois começa a inspirar, neste momento você faz uddiyana bandha. Os dois bandhas são muito importantes. Não solte-os durante todas as posturas finais (não desfaça os bandhas durante as posturas de fim) – e depois também, não solte-os (depois da prática não os abandone). Mesmo depois você pode praticar os bandhas – faça-os, é isso. Pratique sempre, andando, falando, dormindo, em todas as situações você controla mulabandha. Pratique.

Alguns levam muito tempo. Um mês, dois meses, um ano, dois anos e nada. Mulabandha é muito difícil. É por isso que você precisa dedicar um longo tempo de prática a mulabandha – pratique, pratique, pratique. Coloque a sua mente nisso. Pratique e então um pouco já começa a acontecer. Este é o método do yoga. A técnica do yoga. Você quer ser um praticante de yoga – então sempre você pratica mulabandha. Quando mulabandha estiver completo, o controle da sua mente começa a vir. Sem mulabandha o controle da mente não acontece, é difícil. Isso é fato.

A prática conduz à perfeição

Por Sandra Anderson (entrevista originalmente publicada em 1994).
Sandra Anderson é editora-colaboradora para a Yoga International.
Tradução Fábio Furtado



Alegria no rosto, olhos luminosos, um corpo saudável – estas são as características de um yogin, de acordo com o Hatha Yoga Pradipika, um dos textos sânscritos clássicos sobre Hatha Yoga. Tal descrição combina com K. Pattabhi Jois, que, aos 78 anos, tem a coluna reta e o rosto suave de um homem muito mais jovem. De riso fácil, é com um sorriso no rosto que ele entra em um estúdio novaiorquino e pergunta se eu gostaria de fazer yoga com ele. De acordo com o Pradipika, hatha yoga é ensinado para que se alcance o raja yoga, também conhecido como ashtanga yoga, o caminho completo, de oito membros, para a auto-realização, mas cuja ênfase na importância de se obter a perfeição nas posturas e na respiração como um meio de se chegar aos outros membros é menor e menos clara do que a de Pattabhi Jois.

Nascido em 1915 no sul da Índia, Krishna Pattabhi Jois conheceu seu guru, Krishnamacharya, que também foi professor de B. K. Iyengar, quando ainda era um garoto. Pattabhi ensina yoga desde 1937, e alunos do mundo inteiro vêm estudar com ele em sua casa em Mysore, na Índia. Ele esteve nos Estados Unidos diversas vezes, e ainda que esta seja a sua primeira visita a Nova York, a maioria dos estudantes nesta classe matutina parece conhecer a seqüência que ele ensina.

Está quente. As janelas estão fechadas e o ar já úmido se espessa com a intensa respiração de 35 corpos com suor abundante. Os estudantes respiram ruidosamente. Para alguns, a seqüência parece se desenvolver sem esforço, mas ainda assim seus corpos reluzem com o suor. Jois está sempre encorajando – uma mão aqui, um pé ali, uma brincadeira no exato momento em que uma certa descontração se torna necessária. Ele comanda a seqüência das posturas com voz forte, usando os nomes em sânscrito.

Não há preguiça aqui: apenas trabalho intenso e determinado, e a graça que nasce da combinação entre força e flexibilidade. A classe passa de uma postura para outra com fluidez, parando apenas no estado de cada postura, e ligando uma a outra com uma seqüência de flexões da coluna derivada da saudação ao Sol e coordenada com a respiração. “Expire, chatvari, chaturanga dandasana, inspire, pancha, urdhva mukha svanasana.” Jois impõe disciplina, temperada com um humor gentil e afetuoso, ao instigar seus alunos, verbalmente e fisicamente, a chegar onde eles provavelmente não sabiam ser capazes de chegar. E, como se a persuasão, a energia na sala e o esforço de todos não fosse suficiente, há o calor. Apesar dos mats, há pouquíssimos pontos secos pelo chão de madeira totalmente ocupado pelos praticantes ao fim da sessão de duas horas. A seqüência de posturas fluindo continuamente é própria para atiçar uma espécie de “fogo” purificador – para limpar os sistemas nervoso e circulatório por meio de disciplina e do bom e velho suor. “Practice, practice, practice”, diz Jois um pouco depois, dirigindo-se a um pequeno grupo de alunos reunidos em um loft no Soho. Ele fala longamente sobre o método que utiliza, enfatizando que não acrescentou nada de novo aos ensinamentos originais de seu professor e do Yoga Sutra.

Onde o senhor aprendeu yoga?

De meu guru, Krishnamacharya. Comecei a estudar com ele em 1927, quando eu tinha 12 anos. Primeiro ele me ensinou asana e pranayama. Mais tarde eu estudei sânscrito e filosofia advaita na Universidade de Sânscrito em Mysore, onde comecei a ensinar yoga em 1937. Tornei-me professor e ensinei sânscrito e filosofia nessa universidade por 36 anos. A primeira vez que dei aulas nos Estados Unidos foi em Encinitas, na Califórnia, em 1975. Atualmente tenho percorrido todo o país. Me disponho a ensinar a qualquer pessoa que queira de verdade aprender o método de yoga perfeito – ashtanga yoga – exatamente como o meu guru me ensinou.

O senhor também ensina sânscrito aos seus alunos ocidentais?

Não, apenas asana e pranayama. Você precisa do sânscrito para compreender o método do yoga, mas a maioria das pessoas, ainda que queiram aprender sânscrito, dizem que não tem tempo. É muito importante aprender a filosofia do yoga: sem a filosofia, a prática não é boa, ao mesmo tempo que a prática do yoga é o ponto de partida para a filosofia do yoga. Mesclar as duas é de fato o melhor.

Que método o senhor usa para ensinar asana e pranayama?

Eu ensino somente ashtanga yoga, o método original indicado no Yoga Sutra de Patañjali. Ashtanga significa yoga de “oito passos”: yama, niyama, asana, pranayama, pratyahara, dharana, dhyana, samadhi. O Yoga Sutra diz: “Tasmin sati svasa prasvasayor gati vicchedah pranayamah” (II.49). Primeiro você torna asana perfeito, depois pratica pranayama: você deve controlar a inspiração e a expiração, regular a sua respiração, reter e manter a respiração. Depois que asana se tornou perfeito, então pranayama pode sê-lo. Este é o método do yoga.

O que é tornar asana perfeito? Como o senhor faz para torná-lo perfeito?

“Sthira sukham asanam” (YS II.46). A perfeição em asana significa você poder ficar sentado por três horas com estabilidade e alegria, sem qualquer impedimento. E, depois que você desfaz a posição das pernas do asana, o corpo permanece feliz. No método que eu ensino, há muitos asanas, e eles trabalham com a circulação do sangue, com o sistema de respiração e com a focalização do olhar (para desenvolver concentração). Neste método você precisa estar completamente flexível e manter as três partes do corpo – cabeça, pescoço e tronco – em uma linha reta. Se a coluna se dobra, o sistema de respiração é afetado. Se você quer praticar o sistema de respiração correto, deve ter a coluna reta.

A partir do muladhara (o chakra da base da coluna), nascem os 72.000 nadis (canais através dos quais o prana é conduzido pelo corpo sutil). O sistema nervoso se desenvolve a partir dele. Todos esses nadis estão "poluídos" e precisam ser limpos. Com o método do yoga, você utiliza os asanas e o sistema de respiração para limpar os nadis diariamente. Você purifica os nadis ao sentar-se com a postura correta e ao praticar todos os dias, inspirando e expirando, até que finalmente, depois de muito tempo, todo o seu corpo está fortalecido e o seu sistema nervoso foi perfeitamente curado. Quando o sistema nervoso está perfeito, o corpo é forte. Uma vez que todos os nadis tenham sido desobstruídos, o prana adentra pelo canal central, chamado sushumna. Para que isso aconteça, você deve controlar o ânus completamente. Você deve com toda a atenção praticar os bandhas – mulabandha, uddiyana bandha e jalandhara bandha – durante a prática de asana e pranayama. Se você praticar o método que eu ensino, automaticamente os bandhas virão. Este é o ensinamento original, o método de ashtanga yoga. Eu não acrescentei absolutamente nada. Quanto a estes ensinamentos modernos, eu não sei... sou um homem velho!

Este método exige bastante fisicamente. Como você faz para ensinar alguém que não está em boa forma física?

Não é impossível trabalhar com este método para quem não está em boa forma. Os textos sobre o yoga dizem que a prática deixa o yogin magro, mas forte como um elefante. Você passa a ter um rosto yogue. Um rosto yogue é sempre um rosto sorridente. Isto significa que você escuta o “nada”, o som interno, e que seus olhos estão claros. Assim você pode ver com clareza e controla o bindu (a energia vital, às vezes interpretada como energia sexual). O fogo interno se desenvolve e o corpo se vê livre de doenças.

Há três tipos de doença: doenças do corpo, doenças da mente e doenças do sistema nervoso. Quando a mente está doente, o corpo todo fica doente. As escrituras do yoga dizem: “Manayeva manushanam karanam bandha mokshayoho”, a mente é a causa tanto da prisão como da libertação. Se a mente está doente e triste, o corpo inteiro adoece, e tudo termina. Por isso, primeiro você deve medicar a mente. Medicina para a mente – é isto que é o yoga.

O que seria exatamente uma medicina para a mente?

A prática do yoga e o correto sistema de respiração. Pratique, pratique e pratique. É isto. Pratique até que o seu sistema nervoso esteja perfeito e a circulação sangüínea esteja boa, o que é muito importante. Com uma boa circulação sangüínea, você não tem problemas de coração. Controlar o bindu, não debilitar o seu bindu, é também muito importante. Uma pessoa está viva porque contém dentro de si o bindu; quando o bindu está completamente esgotado, você é um homem morto. É o que dizem as escrituras. Ao praticar diariamente, o sangue vai se purificando, e a mente aos poucos fica sob o seu controle. Este é o método do yoga. “Yoga chitta vritti nirodhah” (YS I.2). Significa que o yoga é o controle sobre as modificações da mente.

Estamos conversando bastante sobre a prática do yoga na forma de asana e pranayama. Qual a importância dos primeiros dois membros do ashtanga yoga, os yamas e niyamas?
Eles são muito difíceis. Se você tem uma mente fraca e um corpo fraco, você tem princípios igualmente fracos. Os yamas têm cinco sub-membros: ahimsa (não-violência), satya (veracidade), asteya (não roubar), brahmacharya (continência) e aparigraha (não-possessividade). Ahimsa é impossível, e mesmo dizer a verdade é muito difícil. As escrituras dizem para falar a verdade que for doce e não falar uma verdade que machuque. Mas dizem também para não mentir, não importa quão doce soe. Muito difícil. Você deve dizer apenas a verdade doce porque aquele que fala uma verdade desagradável acaba morto.

Assim, uma mente fraca significa um corpo fraco. É por isso que você constrói uma boa fundação com asana e pranayama, de maneira que o seu corpo, mente e o sistema nervoso estejam todos trabalhando; então você trabalha sobre ahimsa, satya e os demais yamas e niyamas.

E quanto aos outros membros do ashtanga yoga? O senhor ensina algum método de meditação?
Meditação é dhyana, o sétimo passo no sistema ashtanga. Depois que um passo está perfeito, você dá o próximo. Para dhyana, você deve se sentar com a coluna reta, os olhos fechados e focados na ligação entre as narinas. Se você não consegue fazer isso, você não está centrado. Se os olhos abrem e fecham, o mesmo faz a mente.

Yoga é 95% prático. Apenas 5% é teoria. Sem prática, o yoga não funciona, não há qualquer benefício. Por isso você deve praticar, seguindo o método correto e todos os passos, um por um. Assim o yoga é possível.

O termo vinyasa é usado para descrever o que o senhor ensina. O que ele significa?
Vinyasa significa “sistema de respiração”. Sem vinyasa, não pratique asana. Quando vinyasa está perfeito, a mente está sob controle. Isto é o principal – controlar a mente. É o método descrito por Patañjali. As escrituras dizem que prana e apana são equalizados ao se manter a relação de inspiração e expiração igual, e ao se acompanhar com a mente a respiração nas narinas. Se você praticar desse modo, aos poucos a mente se coloca sob controle.

O senhor também ensina pranayama nas posturas sentadas?
Sim. Quando padmasana (a postura sentada de lótus) está perfeita, então você está controlando o seu ânus com mulabandha e também utiliza o fecho do queixo, jalandarabandha. Existem muitos tipos de pranayama, mas o mais importante de todos é kevala kumbhaka, quando as flutuações da respiração – a inspiração e a expiração – são controladas e param automaticamente. Para chegar a isso você deve praticar. Pratique, pratique e pratique. Quando você pratica, novos caminhos do pensar, novos pensamentos, acontecem na sua mente. Palestras soam bem; você dá uma boa palestra e todos falam que você é o máximo. Mas palestras são 99% não práticas. Por muitos anos você deve praticar asana e pranayama. As escrituras dizem: “Praticar por um longo período com respeito e sem interrupção conduz à perfeição”. Um ano, dois anos, dez anos... a sua vida inteira, você deve praticar.

Depois que asana e pranayama estão perfeitos, pratyahara, controle dos sentidos (o quinto membro do ashtanga yoga), vem. Os primeiros quatro membros são exercícios externos: yama, niyama, asana, pranayama. Os quatro restantes são internos, e eles automaticamente se seguem quando os quatro primeiros foram perfeitamente aprendidos. Pratyahara significa que para onde quer que você olhe, você vê Deus. Um bom controle da mente traz esta capacidade, de modo que quando você olha, tudo o que você vê é Atman (o Si-Mesmo). Então para você o mundo está coloreado por Deus. Tudo aquilo que você vê, você identifica com o seu Atman. As escrituras dizem que a verdadeira mente yogue está tão absorvida nos pés de lótus do Senhor que nada a distrai, não importa o que aconteça no mundo externo.

Qual a sua recomendação final para aqueles que têm vontade de seguir o yoga?
Yoga é possível para todo aquele que realmente quiser. Yoga é universal. O yoga não é meu. Mas não se aproxime do yoga com uma mente em busca de bons negócios, interessada em ganhos do mundo. Se você quer estar próximo de Deus, volte a sua mente para Deus e pratique o yoga. Como dizem as escrituras, “sem a prática do yoga, como pode o conhecimento conferir moksha (libertação) a você?”.

Conferência França 1991

Conferência de Sri K. Pattabhi Jois – França, Sábado, 24/08/1991
Tradução Fábio Furtado


Guruji:
todos os asana-s, você pega um a um. Este é o método correto. É o método verdadeiro. Você não deve fazer asana sem vinyasa. Não deve. Por quê?

Sem o vinyasa, não se deve fazer asana. Por quê? Você dobra uma parte (do corpo) – vocês estão entendendo? Por exemplo, Paschimottanasana, Ardha Badha Padma Paschimottanasana. Você faz com uma perna, flexiona uma perna e pega o pé por trás. Por quanto tempo? Muito tempo. Depois, pouca circulação de sangue (circulação restrita), que vai ficando parada em cada articulação. Em seguida de novo você levanta, salta novamente para trás, próxima postura, a outra perna agora. Depois, na hora de saltar, você contrai todo o corpo, não deve deixar solto demais, contrai (ao fazer vinyasa, o corpo precisa manter um tônus, em vez de ficar completamente relaxado). Assim, a circulação sangüínea automaticamente acontece. As dores rapidamente vão embora.

Você, sem vinyasa, ao fazer qualquer postura, todas as articulações ficam sem a circulação sangüínea direta. A circulação não acontece, fica parada lá (na articulação). Depois, você faz todas as posturas sentadas, todo o corpo doente, gradualmente a doença começa. “Ah, o yoga está me deixando doente – não estou gostando.” As pessoas começam a não gostar. Um outro asana: “Ah, é muito ruim. Fico com muita dor. Vou deixar essa asana pra lá. Não faça este asana!”. É o que alguns dizem. Por que isso? Porque o método não foi entendido. É por isso que você deve seguir este método – não haverá problema. O corpo também é muito perfeito. Vocês entendem? Este é o método.

Questão: Nas aulas para iniciantes, é correto, ao ensinar, pedir que os alunos façam menos vinyasas? Não muitos vinyasas e gradualmente solicitar que façam mais. É o correto? Para que não fiquem muito cansados.

Resposta:
Não, não. Com iniciantes você deve começar com o 1o Suryanamaskara por 3 vezes e com o 2o Suryanamaskara, também 3 vezes. No primeiro dia você ensina isso e durante uma semana não ensina mais nada. Não ensina asana. Pára totalmente nos Surya-s. Depois você vai ensinar. Uma semana, os mesmos Suryanamaskara-s. Depois você aumenta. Na segunda semana: posições em pé; Padangushtasana, Padahastasana, Utthita Trikonasana, Parshvakonasana – você passa as posturas em pé. Depois inclui Utkatasana, Virabhadrasana. Faz todas, Suryanamaskara, Trikonasana, Parshvakonasana, incluindo Utkatasana, Virabhadrasana, e não passa mais nada novamente por uma semana. Depois retoma com Paschimottanasana, Purvottanasana – e pára mais uma vez. Em outro dia, passa mais posturas.

Para a sua prática, é a mesma coisa. Só nos lugares onde eu vou para ficar apenas um mês ou 15 dias, uma ou duas semanas: nesses casos é que eu faço as práticas conduzidas. É por isso que vocês devem ir à Índia. Lá eu aplico exatamente este método. Vocês estão entendendo? É por isso que é diferente a maneira como eu ensino aqui e na Índia. De qualquer forma, quando um asana está perfeito, eu passo o seguinte. Se o asana não está perfeito, não passo o seguinte.

Questão: quando é bom fazer full vinyasa? Voltar para Samasthiti depois de cada asana. É correto isso?

Resposta:
sim, é correto. Você pega um asana e faz até terminá-lo. Depois você faz full vinyasa, vai para a posição em pé. Então o próximo. Você tem que estar atento à sua força (dependendo da sua força, você faz meio ou full vinyasa). Sem força, você pára no shat (sexto vinyasa). Conforme a sua força aumente, você faz full vinyasa. Atualmente, não tem mais tempo (muitos estudantes).

É o que eu digo. Um asana, por exemplo, Paschimottanasana, que tem 16 vinyasa-s, ou Purvottanasana, que tem 15, Ardha Badha Padma Paschimottanasana, Tiriang Mukaekapada Paschimottanasana, Janu Shirshasana A, B e C, Marichyasana A e B, todos com 22 vinyasa-s. Full vinyasa.

Fazer full vinyasa para todos os asana-s – é o melhor. Em segundo lugar, fazer todos os asana-s até o sexto vinyasa, nas passagens (nos saltos, ou “jumps”). Com o tempo você vai mudando, quando a sua força for maior você muda. Você faz o sexto, sétimo vinyasa Paschimottanasana. Depois 8-9, então salta de novo. Você vai para a sexta, “shat”, posição. É o que eu ensino, todo dia. Vocês devem seguir o mesmo método. Mas tanto full quanto meio vinyasa podem ser feitos.

O método é bom, sem dúvida. Existe o trabalho. A pessoa está indo trabalhar (para alguém que precisa trabalhar, o método de meio vinyasa é mais apropriado). Na sua prática de yoga você leva uma hora. Uma hora, duas horas – você vai aumentando o seu tempo. No momento em que for fazer todos os asana-s com full vinyasa, você vai precisar de pelo menos 5 horas, vocês entendem? Para fazer os asana-s da Primeira Série, você precisa de 5 horas, Esta é a razão. Você é uma pessoa que trabalha. Não pode usar todo o seu tempo para a prática do yoga.

Vocês entendem? Se você tem tempo integral, faça full vinyasa. Só para os asana-s da Primeira Série você leva 5 horas, com full vinyasa. A Primeira Série completa tem 50 asana-s. Estes 50 asana-s você levaria 5 horas para fazer com full vinyasa. Mas você tem que trabalhar. E trabalha em outro lugar. É claro, você precisa de dinheiro, você precisa comer, você precisa dessas coisas. São muito raros aqueles que podem dedicar todo o seu tempo para o yoga, e é muito difícil algo assim para você. É por isso que você opta por um corte. Uma ou duas horas. Duas horas, para a sua prática de yoga. É bom. Também é bom. Tudo bem, é o que eu digo.

Questão: no vinyasa, ao praticar o vinyasa, o estudante deve fazer o asana a fundo ou deve passar pelo vinyasa com leveza? Por exemplo, do chatwari, para ir para Urdhva Mukha Shvanasana, ele deve fazer uma flexão de coluna leve ou forte?

Resposta:
não, não uma flexão forte, rígida. É a mesma coisa. Com o vinyasa é a mesma coisa que com os asana-s, não se deve soltar. Significa que vinyasa deve ser tão perfeito quanto os asana-s? Sim, e é por isso que estou dizendo que se você fizer todos os asana-s perfeitamente, vai levar pelo menos 3 horas. Vocês estão entendendo? E é por isso que você faz cortes. Você faz em menos tempo. Mas faça a prática. Também é possível obter algum benefício. As Shastra-s (as escrituras) dizem o seguinte sobre vinyasa:

“Sem vinyasa, não faça asana!” Não faça. A prática pode se tornar muito prejudicial. Uma prática prejudicial não traz bom conhecimento.

Patañjali diz:

“yogaangaanusthaanaad ashuddhikshaye jñaanadiiptir aavivekhyaateh” (YS 2.28).
[Por meio da prática dos membros do yoga, há uma diminuição das impurezas e o cultivo da luz da sabedoria discriminatória.]

Isso é real. Mas “ashuddhikshaye” significa: o veneno que você tem dentro de si vai embora, sai completamente. Se o seu corpo está frouxo demais quando faz (se o corpo não está engajado ao praticar)... Você faz uma hora. Nada de suar. Está fazendo apenas pela posição. Do que adianta?! Você precisa fazer yoga de verdade, então deve seguir o mesmo método. E o método é este.

Questão: ao fazer o vinyasa, é correto parar por exemplo em Urdhva Mukha Shvanasana por mais que uma respiração?

Resposta:
apenas uma respiração, inspire, expire. Apenas uma. Inspire por 10 ou 15 segundos, então a expiração, também por 10 ou 15 segundos. Já falei isso 10 vezes e vocês não compreendem!

Questão: Yassin está perguntando se ele deve permanecer por mais tempo em Kurmasana ou nos back-bendings. Você comanda algo como 10 respirações para Kurmasana. E dá 3 vezes 5 respirações em Urdhva Dhanurasana. Yassim está perguntando se ele pode ficar por mais tempo. Ele gostaria de ficar mais, às vezes.

Resposta:
o que eu estou dizendo é: todos os asana-s você pode praticar por quanto tempo a sua força estiver lá. Uma pessoa pratica por muito tempo, faz 100 asana-s – um asana está perfeito. Por exemplo, está fazendo os asana-s sentados, com tempos mais longos, com 10 ou 15 respirações. É só praticar, e isso é tudo. Você pode praticar as sentadas com tempos muito longos, Kurmasana é uma postura que pode ter permanências muito longas, 3 horas, por exemplo. Mas você deve praticar de acordo com a sua força, então não haverá problema. A sua força torna possível 10 respirações, então você faz 10 respirações. É possível fazer 15 respirações, então você faz 15. É possível fazer 100? Você faz 100. Se faz 5, é porque é possível fazer 5. Pratique, é tudo. Estou dizendo apenas para praticar. Fixe a postura, totalmente perfeita. Asana, um asana siddhi, você faz 100 asana-s, um asana está se tornando bom, está vindo perfeitamente. É verdade.

“Sthirasukhamaasanam” (YS 2.46)

“Sthira” significa perfeito. “Sukha” significa felicidade. A postura em que você senta e fica muito feliz, sem dor alguma: esta é “Sthira Sukham”. Esta é que se chama asana. Vocês entendem?

(...) um asana está perfeito, perfeito, perfeito. Existe uma ligação de um asana a outro asana. A ligação está lá. Você faz aqueles asana-s, todos. Um a um. Um a um, todos você torna perfeitos. Depois você faz back-bendings. Asana-s com back-bendings. Entre os asana-s da Primeira Série (ou asanas primários), não há muitos back-bendings – vocês sabem. Com os asana-s itermediários, aos poucos, bem aos poucos, vai começando: Ustrasana, Laghuvajrasana, Kapotasana.

Depois que estes estão totalmente perfeitos, você vai para as posturas avançadas. São posturas com mais asana-s de back-bending: Tiriang Mukha Uttanasana, Padangustha Dhanurasana, Eka Pada Raja Kapotasana, Raja Kapotasana, todos asana-s de back-bending. Conforme as posturas avançadas forem aprendidas, cada vez mais há back-bendings. Mas sempre você faz uma a uma, para depois não ter problemas.

Você tenta as posturas primárias. “Olha! Meu corpo está dobrando! Então vou fazer mais back-bendings. Vou dobrar só para trás, tudo back-bending. Já que eu tenho facilidade, é onde eu vou praticar mais.” (Minhas costas são flexíveis, então vou dar mais ênfase nos back-bendings durante a prática.) Depois disso, começa a ficar doente. Não consegue andar. Muitas pessoas acabam sofrendo isso.

Por exemplo o Gary. Estou citando um exemplo. Gary Lapodota. Gary estava usando um livro. O livro do Iyengar. Ele pegou a prática totalmente desse livro. Depois ele se tornou meu aluno. Estou dizendo que eu não conhecia aquele homem. Oh, muito bom. Depois das posturas primárias, começou as intermediárias, e também as dores nas costas... Hoje inclusive ele está com esse problema. “O que você fez – me diga a verdade”, eu perguntei certo dia. “Ah, eu estava usando o livro e comecei a fazer todos os back-bendings...”

Você deve fazer as posturas primárias completamente! Depois você vai para as intermediárias. Torne-as perfeitas. Depois pegue as avançadas e torne-as perfeitas também. A doença vai embora. É possível viver por muito tempo. Este é o método.

É por isso que eu falo sobre as Shastra-s, Yoga Shastra-s. Você deve pegar os asana-s um a um. Somente um asana, depois outro asana. A ligação está lá. Sem a ligação, acabou.

Eu estava observando um aluno. Ele iniciou com a prática de yoga e começou a fazer back-bendings. Fez back-bendings e depois colocou as costas em Supta Uttana Shalabhasana. Fez Tiriang Mukha Uttanasana. Serge estava ensinando: depois eu o observei nas posturas primárias. Ele não tinha Baddha Konasana, Upavishta Konasana perfeitos. Os joelhos subiam totalmente. Um dia esse homem veio aqui. Depois, não apareceu na aula. Não veio mais. Um dia estava aqui, depois não vinha mais. Onde está esse aluno? Eu não sei. Procurei – ah, claro, está sofrendo mais. E vai sofrer mais ainda depois dos 40 anos.